
Amores, paixões, afetos… quem poderia com exatidão,
definir sentimentos com verbos, adjetivos ou substantivos “Há muita coisa a
dizer que não sei como dizer. Faltam palavras”, disse a narradora no livro Água
viva (1973), obra consagrada de Clarice Lispector.
Cada palavra que Clarice escreveu sejam elas em suas obras
ou em seus contos reunidos, há uma profundidade em cada uma delas, até mesmo em
uma simples vírgula, pois quando você a lê em voz alta, e com uma certa
entonação, as palavras parecem ecoar pelas nossas almas. Por isso é mais do que
certo dizer que Clarice não é apenas uma escritora e sim um sentimento,
daqueles inexplicáveis, que arrepia a pele.
Quando você inicia alguma obra da Clarice você não quer mais
parar, e como se uma sede surgisse de dentro de si, angústia e o amago de
querer saber onde aquela história ira te levar e um dos sentimentos que Clarice
desperta em seus leitores, gerando uma pressa de lê-la para buscar entendê-la
cada vez mais.
E quanto mais você busca mais abstruso ela fica, e quando
finalmente e terminada, surge o desejo de poder esquecer o que foi lido, só
para ter o mesmo gostinho daquele misto de emoções.
Por isso Clarice é conhecida por uns como uma bruxa que
encanta, por sua escrita magnética e enigmática, em todas as suas obras. E aquela
em que você lê uma vez para nunca mais esquecer, e quando você relê aquele
misto de sentimento se aflora novamente.
Em uma entrevista Chico Buarque, relembra do impacto que Clarice lhe causou enquanto ela entrava em um restaurante, ele a descreve
como um ser exótico, por sua beleza e principalmente por sua presença que
intrigava. Gerando um profundo impacto em sua vida e carreira
artística.
Em suas entrevistas Clarice se descrevia como alguém que
buscava essência da existência através da experiência humana. Suas obras
segundo a própria, eram tentativas de expressar o indizível, o mistério da vida
e as profundezas da alma feminina, utilizando uma linguagem poética e
introspectiva.
“Sou o que se chama de pessoa impulsiva. Como descrever? Acho que assim: vem-me uma
ideia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase
que imediatamente. O resultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que agi
sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que
prova que não se tratava de intuição, mas de simples infantilidade.
Trata-se de saber se devo prosseguir nos meus impulsos. E até que ponto posso controlá-los. […] Deverei continuar a acertar e a errar,
aceitando os resultados resignadamente? Ou devo lutar e tornar-me uma pessoa
mais adulta? E também tenho medo de tornar-me adulta demais: eu perderia um dos
prazeres do que é um jogo infantil, do que tantas vezes é uma alegria pura. Vou
pensar no assunto. certamente o resultado ainda virá sob a forma de um impulso.
Não sou maduro bastante ainda. Ou nunca serei”
Clarice Lispector. A descoberta do mundo: rocco, 1999.